terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Santíssima Trindade e a Tradução


Para começarmos, gostaria que o leitor amigo refletisse no conceito de “dogma”:



Dogma [do grego dógma, pelo latim dogma]
a)      Ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa, e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema.

b)      Na Igreja Católica Romana, ponto de doutrina já por ela definida como expressão legítima e necessária de sua fé.


c)      Pelo seu caráter racionalista, o Espiritismo não adota dogma de fé, isto é, ponto doutrinário indiscutível, tanto que preconiza a correção onde estiver comprovadamente em erro, com a adoção de novas verdades científicas. 




Vejamos, para uma maior demonstração do conceito de dogma, a seguinte passagem bíblica, que demonstra como os Fariseus usavam seus dogmas para trancafiar Deus nas limitações humanas, limitando Sua Infinita Ação:


1 João 9:16 (C. Torres Pastorino em "A Sabedoria do Evangelho")



16. Diziam, pois, alguns dos fariseus: "Este homem não é de Deus, porque não observa o Sábado” . Outros porém diziam: "Como pode um homem errado fazer semelhantes sinais"? E havia divergência entre eles.


Neste trecho, portanto, que se refere ao cego de nascença de Siloé que é curado por Jesus em um sábado, vemos a tendência ainda mantida por muitas religiões de tentar manipular e controlar o próprio Deus de acordo com as necessidades humanas.


Pois bem. Tendo o conceito de dogma em mente, vejamos, agora, outro trecho do Evangelho de João:




7 E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.




8 Porque três são os que dão testemunho: o Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam.



Eis, acima, a tradução de Ferreira de Almeida, que, segundo a Wikipédia, “é considerada um marco na história da Bíblia em português porque foi a primeira tradução do Novo Testamento a partir das línguas originais.”



Pode-se ver, a partir dela, que não há nenhuma menção à “Santíssima Trindade”, dogma esse que foi criado pela Igreja Católica Apostólica Romana no Concílio de Nicéia, em 325 A.D., para conciliar pagãos e cristãos, “paganizando” o cristianismo. Eis uma das traduções que possuem este acréscimo, de versão portuguesa, acréscimo este já reconhecido como tal pela supra-citada igreja:


1 João 5:7-8 (O Livro)


7 É assim que temos o testemunho de três:




8 o do Espírito Santo, o do baptismo de Cristo nas águas, e o da sua morte na cruz. E os três dizem a mesma coisa.



O amigo que lê esta matéria não acredita, está em dúvida ainda de que esta é uma manipulação do legado cristão deixado pelos discípulos do amado Mestre Jesus?


Vejamos então uma tradução em inglês do mesmo trecho bíblico:


1 John 5:7-8 (New Living Translation)



7 So we have these three witnesses[a]—8 the Spirit, the water, and the blood—and all three agree.




Footnotes:




1. 1 John 5:7 A few very late manuscripts add "in heaven—the Father, the Word, and the Holy Spirit, and these three are one. And we have three witnesses on earth".


Eis, para aqueles que não dominam o idioma inglês, minha tradução do que diz esta moderna tradução da bíblia:


7 Então temos estas três testemunhas [a] — 8 o Espírito, a água e o sangue – e todas as três concordam entre si.




Notas de rodapé:




1. 1 João 5:7 Alguns manuscritos bastante tardios adicionam “no céu—o Pai, o Verbo, e o Espírito Santo, e estes três são um só. E possuímos três testemunhas na terra.




Vejam, portanto, que é clara e comprovada a adição, por parte da Igreja Católica.


Este, no entanto, não é o único trecho com acréscimos por parte da Igreja. O mesmo problema ocorre em Mateus 28:19-21, como podemos ver a seguir:





19 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;



20 ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.



Na Bíblia a seguir, uma tradução literal para estudo, demonstrando seu tradutor ter conhecimento do acréscimo, mantém o mesmo para satisfazer talvez os trinitaristas, porém coloca-o entre parênteses, demonstrando ser uma inserção, não parte do texto original: 



Matthew 28:19-21 (Young's Literal Translation)


19 having gone, then, disciple all the nations, (baptizing them -- to the name of the Father, and of the Son, and of the Holy Spirit,



20 teaching them to observe all, whatever I did command you,) and lo, I am with you all the days -- till the full end of the age.'



Tradução (minha) da citação acima:



19 ao partir, então, fazei discípulos em todas as nações, (batizando-os -- em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo,



20 ensinando-as a observar tudo, o que quer que eu vos tenha ordenado,) e eis que estou convosco todos os dias -- até ao derradeiro término deste ciclo*.


* ou era.



Para adicionar um comentário da própria Igreja sobre o assunto, eis o seguinte trecho, retirado de um artigo escrito em um site hospedado por adventistas do sétimo dia:


13. A mais recente edição da Bíblia de Jerusalém, Nova Edição, Revista e Ampliada, lançada em agosto de 2002 pela Igreja Católica, em nota de rodapé a Mateus 28:19, admite que a frase "batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tenha sido acrescentada posteriormente ao Livro de Mateus:




"É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus" (cf At 1,5+;2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade..."




Outro website, que possui vários argumentos dignos de nota, mostra duas fotos do supra-citado livro católico, mostrando o comentário sobre o mesmo trecho de Mateus:



  
Bíblia de Jerusalém Bíblia de Jerusalém (detalhe)



Portanto, como podemos ver, Mateus 28:19, que é , atualmente, a única parte da Bíblia que diretamente sustenta, em todas as traduções, o dogma da trindade, possuiu um acréscimo da Igreja Católica para fazer com que as pessoas acreditem no mesmo.


Pois bem, vejamos agora quando essas manipulações foram feitas e a origem de tudo isso.


De acordo com o livro de David Flusserentitulado "O Judaismo e as Origens do Cristianismo", Eusébio de Cesárea (263-339), o teólogo da corte de Constantino e o herdeiro teológico de Orígenes, utilizou, por diversas vezes, citações ao referido trecho de Mateus, que mostram uma tradução completamente diferente do versículo, sem a modificação feita pelo catolicismo após o Concílio de Nicéia:


“Ide e tornai todas as nações discípulas em meu nome, ensinando-as a observar tudo o que vos ordenei”.


Eis duas fotos do livro:




Origens do Judaísmo (Capa)  Origens do Judaísmo (Pg. 156)



Por fim, como podemos constatar, a doutrina da Santíssima Trindade foi usada pela Igreja Católica para satisfazer a necessidade do Imperador Constantino, à época do supra-citado Concílio, que precisava unir pagãos e cristãos, conciliando o monoteísmo cristão com o politeísmo pagão ao inserir a concepção de trindade no cristianismo, termo este que quer dizer "três divindades", ou seja, é uma concepção clara e indubitavelmente politeísta.


Isso foi feito decidindo-se, por votação, que Jesus, Deus e o que chamam "Espirito Santo" - e, de fato, é um espírito santo dentre muitos, quando vemos na Bíblia, isto é, um espírito puro, um "anjo" (=mensageiro em grego) - são todos Deus, mas que não se poderia se referir a eles como três deuses, para não ficar evidente que haviam transformado o cristianismo em uma religião politeísta, para seu próprio interesse.


Além desta manipulação, transformaram o dia de descanso, sábado, no domingo, que é o "dia do sol" - Sunday em inglês -, e era já celebrado pelos pagãos. O mesmo a Igreja Católica fez com os ídolos, cuja adoração é proibida nas escrituras, mas era prática entre os pagãos.


A própria trindade, que é o foco neste que é meu primeiro artigo, tem sua origem no hinduismo, como podemos ver na citação de outro site:


"Brahma, Vishnu e  Shiva  compõe a Trindade no Hinduísmo, chamada de Trimurti. Uma crença do paganismo que inspirou o dogma da Trindade no Cristianismo. Uma criação da Igreja Católica e que, apesar de não ter nenhuma base bíblica,é essencial dentro da fé cristã. Tão essencial que chamam de "Santíssima Trindade". Para ser considerado "cristão", segundo os católicos, tem que crer na Trindade. A obra católica "História da Filosofia Volume I" de Giovanni Reale e Dário Antiseri diz que o Concílio de Nicéia em 325, onde esse dogma foi criado, foi "onde nasceu o símbolo da fé, destinado a ser o "credo" de todos aqueles que se reconhecem como cristãos: "Cremos em um só Deus onipotente, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai, ou seja, da substância do Pai, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado e não criado, consubstancial ao Pai, pelo qual todas as coisas foram criadas, as que estão no céu e as que estão na terra" "


Estes, portanto, são os dos argumentos que pude levantar sobre este tão polêmico e debatido tema, os quais são, a meu ver, provas suficientes para não serem contestadas por pessoas sinceras, que colocam a própria verdade acima do próprio orgulho, vendo Deus como Ele realmente é:



1 Timóteo 1:17 (João Ferreira de Almeida Atualizada)


17 Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus, seja honra e glória para todo o sempre. Amém.



Alguns links sobre o assunto:


A Pagã Trindade - Igual ao Hinduísmo

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